Um dos maiores desafios da indústria cosmética, atualmente, é a criação de cremes e loções anti-rugas capazes de agir sobre as camadas mais profundas da pele. Quanto maior a profundidade atingida, mais potentes serão os efeitos rejuvenescedores.
Os primeiros resultados dessa busca começam a aparecer. São os produtos criados com os recursos da nanociência e da nanotecnologia, que trabalham com partículas de dimensões tão diminutas que, por muito tempo, só existiram no imaginário dos escritores de ficção científica – seu maior visionário foi o escritor russo Isaac Asimov (1920-1992), autor do clássico Viagem Fantástica.
O prefixo "nano" vem do grego e significa "anão". Um nanômetro corresponde a um bilionésimo de metro. Imagine a cabeça de um alfinete de 1 milímetro de diâmetro: essa medida é equivalente a 1 milhão de nanômetros. "A cosmética é uma das áreas mais promissoras desse novo campo de pesquisas", diz Silvia Guterres, professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nos Estados Unidos, os investimentos em nanotecnologia são de cerca de 3 bilhões de dólares por ano. Os produtos de beleza, estima-se, ficam com até 10% desse valor.
Na base da nova geração de cosméticos estão nanopartículas que funcionam como uma espécie de elevador e carregam as substâncias rejuvenescedoras até as regiões mais recônditas da epiderme. Graças a essa propriedade, os nanocosméticos conseguem agir na camada basal, o nascedouro das células epidérmicas.
"Ao atuar nessa região, os produtos contribuem para que se forme uma epiderme de melhor qualidade", diz o dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Estética em São Paulo. "Isso porque fortalecem células muito novas, que ainda não sofreram as agressões do meio ambiente." O resultado é uma pele mais viçosa e uma fisionomia mais jovem.
Alguns desses nanocremes já estão no mercado brasileiro. Entre eles, a linha anti-rugas RevitaLift e o Sérum Double Action, produzidos respectivamente pelas francesas L'Oréal e Anna Pegova. Nos Estados Unidos, a americana Procter & Gamble incrementou os hidratantes da linha Olay com nanopartículas de óxido de zinco, cuja função é proteger contra os efeitos nocivos do sol.
O químico Henrique Toma, pesquisador da Universidade de São Paulo e autor do livro O Mundo Nanométrico: A Dimensão do Novo Século, costuma usar uma boa metáfora para explicar o poder de penetração das nanopartículas nas camadas mais internas da epiderme. "Pense em como seria fazer um cafezinho colocando os grãos no coador, em vez do pó. O tamanho da partícula não faz diferença?"
Os primeiros produtos que pretendiam combater as rugas limitavam-se a esfoliar a área mais superficial da epiderme, a camada córnea. Na década de 70, surgiram cremes cujas formulações continham substâncias que conseguiam penetrar na pele. Ainda assim ficavam também restritos à camada córnea.
Nos anos 80, chegaram ao mercado compostos à base de alfa-hidroxiácidos, capazes de quebrar as duras moléculas de queratina, proteína responsável pela firmeza e proteção da pele. Com isso, os cremes foram ainda mais fundo. A década seguinte foi a dos lipossomas – minúsculas partículas compostas de gordura e água. Com eles, os anti-rugas atingiram o terceiro subsolo da epiderme. Suas dimensões são microscópicas, mas não pequenas o bastante para chegar à camada basal
A nanotecnologia pretende ir além. É uma promessa e tanto. Mas deve-se conter o entusiasmo. "Ainda não se conhecem os efeitos e a eficácia a longo prazo dos nanocosméticos", diz a dermatologista gaúcha Doris Hexsel.
Fonte:
La guerra invisível contra as rugas - Paula Neiva
Veja On-line: Beleza: Edição 1889. 26 de janeiro de 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário